Dominguinhos tinha apenas 16 anos quando Luiz Gonzaga alardeou para o
mundo que aquele rapaz era o seu herdeiro musical. Em uma reportagem na
extinta revista Radiolândia, o rei do Baião disse palavras
premonitórias: “Estou ajudando ele e espero que o público o cansagre.
Dominguinho (como Gonzaga chamava o artista) merece vencer como
artista”. Quando Gonzagão morreu, Dominguinhos já era um artista
consagrado. Agora, com a morte do principal herdeiro gonzagueano, existe
um artista símbolo do Nordeste?
Assim como o seu mestre, Dominguinhos tinha como projeto de vida
espalhar a música do Sertão. E assim acolheu artistas iniciantes, apoiou
forrozeiros de todos os estados e de várias vertentes. O seu legado se
pulverizou por centenas de artistas, mas não chegou a materializar
nenhum nome indiscutível. Dominguinhos era admirador de Gennaro (que
tocou no Trio Nordestino), Targino Gondim, Mestrinho (que acompanha
Gilberto Gil e Elba Ramalho), Beto Hortiz, Cezzinha, Papaleo.
“Ninguém substituiu Gonzaga. E, na minha opinião, Dominguinhos também
não terá substituto. Gênios não têm substitutos. Têm seguidores”,
afirma o pesquisador paraibano José Nobre. “Temos algumas lideranças
expressivas do forró, como Targino Gondim e Flávio José, que representam
a força da música nordestina”,
acrescenta.
Apadrinhado de Dominguinhos, que conheceu aos 13 anos, Cezzinha foi
um dos sanfoneiros que o mestre acolheu e ensinou. “Bastava ele tocar
que a gente aprendia. Eu fica ali no palco, do lado dele, observando”,
lembra o cantor e sanfoneiro, que não se consideira o herdeiro de
Dominguinhos. “Temos que carregar o legado cultural que ele deixou e não
deixar a peteca cai. Nunca vou deixar de seguir os mandamentos dele”,
diz.
Apontado também como um dos importantes seguidores de Dominguinhos,
Beto Ortiz lembra da generosidade do sanfoneiro. “Quando ele tocava e eu
pedia explicações sobre o que ele estava fazendo, ele respondia com
muita tranquilidade”, diz. “Na mídia, não nenhum acordeonista que possa,
hoje, chegar perto dele”, acredita.
Para Luizinho Calixto, de família tradicional nos Oito Baixos, não há
sanfoneiro no Brasil que não tenha tido a influência do toque de
Dominguinhos. “Eu acho muito dificil falar sobre um sucessor. Todos os
sanfoneiros têm que trilhar o caminho de Dominguinhos para tocar bem.
Vai demorar muito e talvez nós nunca teremos a oportunidade de ver
alguém com um acordeon no peito que faça alguma coisa diferente do que
Dominguinhos fazia. Ele explorou a sanfona de forma inacreditável”, diz
Luizinho.
Representante da tradição da sanfona gaúcha, Renato Borguetti também
aprendeu com o sanfoneiro. “Tem uma passagem que eu me lembro bem, que
ele me disse: “Renato, tu ainda é muito novo e toca como eu tocava
quando era novo: com muitas notas e muita velocidade. Quando você ficar
mais velho, vai perceber que uma nota bem colocada vale por mais de
dez”, conta o gaiteiro, que rechaça a ideia de um herdeiro. “Não é nem
correto dizer que uma única pessoa vai levar a música dele adiante.
Sanfoneiros de todo Brasil e do mundo devem muito a Dominguinhos”.
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/play/2013/07/morte-de-dominguinhos-deixa-o-nordeste-orfao-de-um-artista-simbolo/