Muitos
de nós já ouvimos, ou mesmo pensamos, ao observar uma pessoa arrasando e
curtindo muito na pista de dança: “Uau! Que fantástico! Quero fazer
aulas com ele (ou ela).”. Ou ainda, após assistir a um show de tirar o
fôlego: “Vou ficar só esperando ela(e) sair do camarim, e quero ser o
primeiro a tirá-la(o) pra dançar. O baile está garantido!”. Quantos de
nós já não fizemos ‘aquela’ aula de babar, ficamos encantados com os
professores(as), e mal conseguíamos conter a ansiedade em vê-los em
‘ação’ nos shows da noite? Esses são apenas alguns exemplos de como
podemos interligar essas diferentes manifestações salseiras. O ponto é
que muitas vezes essas nossas expectativas não são plenamente atendidas,
e surge a frustração. Vamos tentar entender um pouco do porquê.
Acredito
que a esses casos citados acima, aplica-se perfeitamente o tal do “Uma
coisa é uma coisa, e outra coisa é outra coisa”. Um bom dançarino de
baile não é necessariamente um showman, um bom professor não arrasa
necessariamente na pista, e o dançarino performático nem sempre consegue
dar uma boa aula. Existem inúmeros exemplos disso, e eu não estou aqui
para favorecer um em detrimento do outro, e reconheço que há por sua vez
raros exemplos de profissionais que se destacam realizando excelentes
trabalhos em duas ou mesmo em todas essas áreas. Quem poderia ainda
afirmar que é mais fácil, ou melhor, se apresentar do que dar aulas,
dançar na pista do que fazer shows, e assim por diante? O fato é que
todos temos nossos próprios talentos, e sabemos onde nos sentimos plenos
e realizados. Tudo tem seus méritos, e requer habilidades muito
diferentes umas das outras:
» Dançar
na pista, curtir o baile, cada música, fazer o seu parceiro(a)
sentir-se especial independente do seu nível de dança não é fácil, e as
pessoas que fazem isso com maestria são consideradas as mais queridas.
São aquelas pessoas que todos e todas querem ter por perto. Sinônimos de
diversão garantida na balada. Esse é realmente um dom para poucos, e a
recompensa vem na forma de encantadores sorrisos e abraços durante e
depois da dança.
» Fazer
um show não significa apenas executar uma coreografia. Tem que amar
estar lá, sendo observado, admirado, idolatrado e muitas vezes criticado
por toda aquela platéia. Ahhh a platéia… o showman ‘vive’ para essa
platéia! Nasceu para encenar, e consegue tocar a todos com a sua
interpretação. É uma mistura de ator/atriz com dançarino(a). Não importa
se o show durou dois minutos ou duas horas, o showman sempre vai sair
com um gostinho de “num acredito que já foi!”. E aí? Vai encarar? Se
esse é o seu palco, aproveite os aplausos e capriche nos agradecimentos.
» Ser
um professor vai muito além de passar passos e movimentos a um grupo de
pessoas. Vídeos na Internet existem às pencas, mas nada substitui o
professor. O verdadeiro professor deve estar preparado para formar e
informar dançarinos, sejam eles futuros profissionais, baladeiros ou
mesmo pessoas que querem aprender a dançar sem pretensão alguma – todos
merecem qualidade de informação. Um professor deve buscar
incansavelmente o aperfeiçoamento da técnica, conhecer a história do que
está ensinando, pesquisar tendências e estar familiarizado com
metodologias de ensino. Deve estar preparado para responder às perguntas
de alunos que muitas vezes parecem crianças de 4 ou 5 anos com os seus
“mas por quê?”. É… dá trabalho, mas a satisfação de olhar um aluno na
pista se divertindo, matando a pau numa apresentação, ganhando
competições ou mesmo se tornando um professor compensa todo o esforço.
Melhor ainda quando nos damos conta de que esse aluno nos superou…
missão cumprida!
Tudo
isso seria muito lindo, se não tivéssemos uma pressão do mercado (do
meio) para que um profissional de dança seja “fera” em tudo. Como já
disse acima, são raros esses casos, e então entra em cena o famigerado e
tão conhecido “ego”. Como parte da construção básica da personalidade,
ele é fundamental. No entanto, ao nos tornarmos escravos de seus
caprichos, arriscamos nossas carreiras e relacionamentos no mundo
salseiro. Certa vez, conversando com um dançarino, ele me perguntou:
“Gustavo, se uma pessoa chega pra você e diz que não gosta da sua aula,
que sua aula é ruim, como você reage?”. Eu respondi que não há problema
algum em pessoas não gostarem do meu ou do seu trabalho, e que graças a
Deus existem diversos profissionais, professores que trabalham com
metodologias e técnicas diferentes. Eu tentaria identificar os pontos de
divergência entre a minha aula e o que ele quer, e o encaminharia a
algum professor que pudesse atendê-lo. No que ele me respondeu: “É, taí a
nossa diferença. Se alguém me disser que não gosta da minha dança, eu
vou fazer de tudo pra mudar e fazer com que ela passe a gostar”. Boa
sorte…
Pois
é, vamos combinar que ninguém nem nada é unânime, e que o melhor é
sempre agir de acordo com a nossa natureza. Você não vê um pé de caqui
deprimido porque queria dar bananas. Abrace o seu talento! Salseiro
conhece-te a ti mesmo… suba no seu palco, seja autêntico… e divirta-se!
http://www.interactodancas.com.br/artigos1.asp?codigo=585
Gustavo Lilla: www.salsadesignseo.com.br